terça-feira, 28 de junho de 2011

Masterização

A propalada “masterização” existe desde que se começou a gravar discos há cerca de um século. O termo se popularizou com a introdução do CD e dos recursos digitais de edição do áudio. Masterizar quer dizer “passar para a master”, a fita matriz que contém o material finalizado. Então, se mixarmos um trabalho e gravar o resultado numa fita cassete, estamos masterizando em cassete. No mercado fonográfico, já se usaram fitas de rolo, fitas PCM e DAT. Hoje, já podemos masterizar direto para o CD.


A própria edição do material mixado, antes de ser transferido para um suporte físico, não é privilégio da era do CD. Nos tempos analógicos, já se editava o material mixado numa fita, transferindo o resultado para outra fita. Só que usar um mouse é muito mais fácil que remendar fitas com gilete e cola. Daí, desde que se começou a gravar em computador, as técnicas de pré-masterização (edição do material estéreo) se difundiram em larga escala, alcançando boa parte dos home studios.


Não estamos, aqui, preocupados com remasters, maneira encontrada pela indústria para vender um CD duas ou três vezes para os mesmos consumidores. O que está em questão, além das técnicas de acondicionamento das gravações num suporte físico, no caso o CD, são os procedimentos para recuperarmos a qualidade do material. Redução de ruídos, equilíbrio dos timbres, ganho de volume e outros recursos que encontramos nos mesmos programas que temos usado aqui nesta série de artigos. Assim, quem tem um estúdio de gravação no seu PC, tem, automaticamente, um estúdio de masterização, desde que o computador contenha um gravador CD-R ou CD-RW. E nele podemos tanto melhorar o resultado de nossas próprias gravações e mixagens quanto corrigir certos erros nas mixagens vindas de outros estúdios.

Preliminares.
No artigo anterior, finalizamos nossa mixagem salvando a música no HD como um arquivo .wav. Vamos agora abrir este arquivo no programa Sound Forge. Se a música vem mixada de outro estúdio, temos que transformá-la primeiro num arquivo .wav. Caso a gravação esteja em DAT, vamos copiá-la para o Sound Forge. Ligue as saídas estéreo analógicas ou digitais do DAT à mesa ou diretamente à placa de som. Ponha o Sound Forge para gravar acionando o botão com a bolinha vermelha (Record). Na janela que se abre, monitore o nível, regulando-o na mesa ou no programa que controla a sua placa. O nível dos picos máximos deve chegar perto da marca 0 dB (zero decibel), sem nunca ultrapassá-lo (clip), sob pena de distorção no som. Se a música vem de outro estúdio em CD, transforme-a num arquivo .wav por meio de um programa que faça a extração do áudio do CD para .wav. Este programa pode ser o Easy CD Creator, da Adaptec, que vem com a maioria dos gravadores de CD.
Pré-masterização.
A fase mais crítica do processo é a da edição do material. Agora que nossa música está num arquivo .wav, vamos abri-la no Sound Forge. O primeiro passo é verificar o nível do ruído e, se preciso, reduzí-lo. Na parte mais baixa da tela do Sound Forge temos lentes verticais e horizontais para a visualização do gráfico com as ondas sonoras. Focalizando o início do arquivo, antes da música começar, observamos o nível de ruído. Se for insignificante, deixamos como está. Caso contrário, vamos voltar a usar o plug in Noise Reduction, que já tínhamos detalhado no artigo IV desta série e utilizado no artigo XIV, sobre a edição das pistas gravadas. Aqui, muito cuidado para que a redução do ruído não altere os timbres de vozes e instrumentos ou desequilibre a mixagem.


Agora, ouvimos com atenção para verificar se os timbres estão bem equilibrados. Se for absolutamente necessário corrigi-los, vamos apelar para um equalizador ou um enhancer. Bons modelos de plug ins são o equalizador paragráfico de 10 bandas Waves Q10 e o enhancer DSP/FX Aural Activator. O enhancer (“melhorador”) realça harmônicos abafados nas diversas etapas, como a captação e a mixagem. Mas, cuidado: equalizador não inventa freqüências que não existem, apenas reforça ou atenua o que está gravado. Quanto mais alteramos o equilíbrio entre as diversas freqüências graves, médias e agudas, mais riscos corremos de deformar o trabalho. Por isso, uma boa mixagem é fundamental. Faça o dever de casa.


Outro ponto importante é a compressão dinâmica. Como já vimos em outros artigos, a compressão traz o som “mais pra frente”. Isto é, comprimimos os picos de volume para podermos aumentar o volume médio. O plug in Waves L1 Ultramaximizer é um limitador de picos ideal para a situação. Reduzindo os picos excessivos no material mixado (por exemplo, do bumbo e da caixa da bateria), o limitador aumenta automaticamente os demais sons, chegando a alterar os níveis relativos dos instrumentos e vozes. Mais uma vez, cuidado: a ânsia de aumentar os volumes não deve permitir que tornemos a música “chapada”, sem profundidade. Esta compressão final, de poucos decibéis, depende do gênero e estilo musicais. Na música erudita e instrumental em geral, usamos muito menos compressão do que, por exemplo, num hip hop ou em música techno.


O próximo passo é cortar o início e o fim do arquivo. O corte é fundamental para que cada música, no CD, comece no início e termine no fim de sua faixa. Parece redundante, mas nada é mais desagradável que um CD demo com intermináveis segundos de espera entre as canções. Cortar é simples: selecione, arrastando o mouse, os trechos de silêncio no início e no fim do arquivo, e aperte a tecla <Delete>. O problema são os estalinhos que às vezes se ouvem nesses pontos de corte. Resolvemos o problema selecionando um trecho bem curto (de alguns milissegundos) logo antes da música começar e clicando em <Process>, <Fade> e <In>; e selecionando um trechinho bem ao fim da música e clicando em <Process>, <Fade> e <Out>. Nas músicas que terminam com um longo fade out de vários compassos, é preferível “desenhar” o decréscimo de volume em gráficos de edição do que ficar arrastando manualmente o controle de volume master de uma mesa de som.


Salvamos o arquivo .wav e passamos às próximas etapas.

Masterizando o CD.
No Sound Forge, pelo menu Tools, abrimos o plug in CD-Architect, que é um excelente programa de montagem de CDs de áudio. Um verdadeiro paraíso para masterizadores e discotecários, já que seqüenciar canções é sua função. Uma vez detectado o seu gravador CD-R, ele está pronto para nos ajudar a materializar o sonho: fazer o CD.




O CD-Architect

Embaixo à direita, um simulador de CD player permite escutarmos as músicas e navegar por elas, como é feito nos aparelhos de CD.


Adicione as músicas selecionando seus arquivos .wav na ordem preferida. Clique em <File>, <Audio pool>, <Add...> e busque nos diretórios o seu arquivo. Numa faixa da tela, chamada Audio Pool, o CD-Architect vai pondo os gráficos com áudio estéreo, um após o outro. Ele também separa as músicas automaticamente por dois segundos, o que pode ser modificado entre cada duas músicas. Podemos arrastar cada música mais para perto ou longe da anterior, usando o mouse. Uma linha sobre cada canção é o envelope de volume: permite alterar o volume de cada uma, inclusive desenhando fades e alterações. Se esses arquivos estão normalizados, não aumente nenhum volume acima de zero dB, apenas abaixe, se precisar, tendo como referência a música de volume mais alto.


Após a organização das músicas no CD vamos, finalmente, “masterizar”. Coloque um CD virgem no gravador de CDs. No CD-Architect, clique no botão com a bolinha vermelha (Record), escolha o número de cópias, a opção de só gravar o CD (teste só na primeira vez) e a velocidade, que pode ser a máxima do seu gravador. Após alguns minutos, o gravador se abrirá e o programa deverá informar que o CD foi gravado com sucesso. Pegue-o e ouça-o. Ame-o ou deixe-o, mas grave outros.




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